sexta-feira, 13 de agosto de 2010

RELIGIOSIDADE POPULAR NO TAMBOR DE CRIOULA - Sérgio Figueiredo Ferretti.

(Resumo de trabalho apresentado no Simpósio Festas e Tradições Religiosas Afro-Brasileiras, promovido pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA), na 47. Reunião Anual da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC), São Luís, 09-14/07/1995.)

Tambor de Crioula é uma dança organizada por negros do Maranhão em homenagem a São Benedito e outras entidades. Não constitui, entretanto, manifestação especificamente religiosa, sendo considerada como "brincadeira", que pode ser realizada em qualquer local e época do ano, inclusive no Carnaval e em apresentações públicas. Homens tocam três tambores longos, com couro em uma só boca e entoam toadas conhecidas ou de improviso. Mulheres cantam e dançam, dando entre si, ou com pessoas da assistência, uma "punga" ou umbigada, numa espécie de convite à dança.
Assemelha-se a outras danças de umbigada presentes na África e em algumas regiões do Brasil. Com o nome de tambor de crioula, ocorre especialmente no Maranhão, onde assume características que a distingue de outras no país. No próprio Maranhão esta manifestação cultural possui "sotaques" ou variações locais, mais rápidas ou lentas, com a participação dançada de homens ou não.
Embora seja dança eminentemente festiva, não se caracterizando pela ocorrência do transe com entidades sobrenaturais, apresenta vinculações com o catolicismo popular e com religiões de origem africana. A ausência generalizada de conhecimentos sobre "coisas de negros", derivadas de preconceitos e do pouco interesse pela religiosidade e a cultura popular, constituem elementos geradores de confusões sobre o tambor de crioula, por parte de investigadores do passado e de observadores apressados no presente.
Tambor de mina é o nome mais comum dado à religião de origem africana no Maranhão e na Amazônia. Uma de suas especificidades é a realização, dentro dos terreiros, de diversas manifestações da cultura popular, como a festa do Divino Espírito Santo, o bumba-meu-boi, o tambor de crioula e outras.
Terreiros de mina e de umbanda no Maranhão realizam festas com tambor de crioula, em homenagem a Preto Velho, no dia 13 de maio e para outras entidades, em outras datas. As festas de tambor de crioula, de pagamento de promessa, se iniciam geralmente com ladainha em latim, seguida por hinos em louvor ao santo cultuado e se continuam por várias horas do dia ou da noite.
São Luís é uma cidade que "dorme ao som dos tambores", mas pouca gente conhece os significados destes tambores. Dizem que São Benedito, por ser santo preto, gosta de tambor de crioula. No tambor de mina, São Benedito é sincretizado com o vodum daomeano Toi Averequete, uma das entidades mais difundida e reverenciada nesta religião. Assim, muitos terreiros de mina e de umbanda no Maranhão costumam oferecer festas com tambor de crioula em homenagem a esta ou outras entidades sobrenaturais que apreciam manifestações da cultura popular.
Sabemos que religião e folclore são domínios específicos. Muita gente pensa que tambor de crioula é apenas uma "brincadeira" profana, mas na cultura popular o sagrado e o profano são difíceis de separar. Nas festas de tambor de crioula, principalmente nos terreiros, costumam haver pessoas que entram em transe com os seus encantados. A descontração e a informalidade das festas populares, especialmente do tambor de crioula, dentro ou fora dos terreiros, constituem características intrínsecas desta manifestação tão contagiante, que participa ao mesmo tempo da cultura e da religiosidade popular.


Texto extraído do Bolteim nº 03 da Comissão Maranhense de Folclore.(www.cmfolclore.ufma.br)

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